App permite o envio de mensagens sem identificar o autor.
Apelações são consideradas bullying virtual
Colégios particulares já estão preocupados com a exposição
indevida de adolescentes e jovens em mensagens anônimas, inclusive com fotos de
apelo sexual, que podem ser replicadas por toda uma escola por meio do
aplicativo para celulares Secret. “Morro de medo de citarem meu nome, de
inventarem alguma mentira sobre mim. Aconteceu com umas colegas minhas, que
foram zoadas pela internet. Não posso dizer o que falaram delas, mas era
conteúdo impróprio”, revela A. C., de 12 anos, aluna da 7ª série do ensino
fundamental de uma escola da Região Sul de Belo Horizonte.
Segundo a estudante, embora seja desnecessário identificar o
autor do post no Secret, sempre protegido pelo anonimato, os adolescentes estão
exagerando ao publicar fotos dos colegas em situações constrangedoras, sem
poupar o nome da vítima e nem mesmo o colégio onde estuda. “Já tem um monte de
gente torcendo para este aplicativo sair do ar, porque ninguém está concordando
com isso. Ninguém merece ser xingado e humilhado em uma rede que pode ser vista
no mundo todo”, desabafa a estudante, que participou de um debate espontâneo
entre alunos da 7ª série, interligados pelo WhatsApp.
“Os diretores não podem ser omissos e ficar esperando o
problema acontecer na sua escola. É preciso conscientizar o aluno contra o
bullying virtual, que constitui crime cibernético. Se envolver menor de idade,
o pai poderá ser responsabilizado criminalmente pela atitude do filho”, alerta
Emiro Barbini, presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais
(Sinep-MG). No ano passado, a entidade distribuiu cartilha com informações
sobre crimes cibernéticos, endereçada a cada um dos alunos das 670 escolas da
capital.
Em vez de proibir a entrada dos celulares e Ipods nos
colégios, já incorporados como mecanismo de controle dos pais, o Sinep-MG
recomenda conscientizar estudantes em relação ao uso moderado do aparelho. Na
noite de hoje, a discussão será levada para a reunião dos professores do
Colégio Magnum por Anselmo Sampaio, coordenador de Formação Humana e Cristã.
“Não tem como dizer aos adolescentes ‘faça isso’ ou ‘faça aquilo’. É preciso
mobilizar os alunos do ponto de vista da noção de respeito às pessoas, ao
direito de privacidade, ao crime de falsidade ideológica. É a velha história do
‘não faça com o outro o que você não gostaria que fosse feito com você’. Em
outras palavras, para toda ação existe uma reação”, compara o coordenador.
Em escolas de São Paulo e do Rio de Janeiro, o aplicativo
Secret já virou tema de debates nas escolas. O caso de uma aluna que teve
exposta na rede uma foto íntima enviada a um namorado, depois do rompimento do
relacionamento, virou caso de polícia. A Polícia Civil já investiga denúncias de
vazamento de fotos íntimas de jovens no Secret. “A investigação sobre o autor
da publicação pode até demorar, mas a gente sempre consegue rastrear, não
apenas com informações divulgadas na internet, mas também investigando a
motivação do crime, o círculo pessoal da vítima”, garante o delegado César
Matoso, da II Delegacia Especializada de Crimes Cibernéticos de BH.
Difamação
O consultor de marketing Bruno Machado, de 25, nunca havia
ouvido falar do aplicativo Secret até a noite do dia 5 deste mês, quando
postagens nas redes sociais comentavam o sistema de mensagens anônimas. Poucas
horas depois, já na madrugada de quarta-feira, ele descobriu que havia sido
alvo de três dessas publicações. Além de trazer fotos do rapaz nu, os posts
diziam que ele era portador do vírus HIV e participava de orgias com seus
amigos. O resultado é que na segunda-feira seus advogados entraram com um ação
civil na Justiça para bloquear o app no Brasil por acreditarem que ele viola a
Constituição Federal, o Código de Defesa do Consumidor e o Marco Civil da
Internet.
Segundo reportagem publicada ontem pelo jornal Folha de São
Paulo, cinco vítimas do Secret estão acionando a Justiça para obrigar o Google
e a Apple a retirarem o aplicativo das lojas, além de bloquear o acesso
daqueles que já fizeram o download. Uma das pessoas em questão teve uma foto
íntima exposta, citando nome e local de trabalho. Depois, vieram diversas
outras postagens difamatórias falando falsamente que o homem participa de
orgias com amigos, citando nome dos amigos, além de acusar o jovem de ser
portador do vírus HIV.
Saiba mais sobre o aplicativo americano
Com a promessa de manter sigilo em relação à identidade do
destinatário, esse aplicativo próprio para celulares Secret permite publicar
mensagens anônimas que vão ser compartilhadas por um grupo, como por exemplo a
escola ou o curso de inglês. Lançado no início do ano nos Estados Unidos, como
uma espécie de espaço para desabafo pela internet, o Secret chegou em maio ao
Brasil. Foi criado pelos americanos David Byttow e Chrys Bader-Wechseler, ambos
ex-funcionários do Google. Por não identificar o autor das postagens
compartilhadas, no entanto, o programa está sendo usado para a prática de
bullying virtual e, em casos mais graves, a publicação de fotos de jovens nuas.

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